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Olhos que condenam

A série “Olhos que condenam” da Netflix é um dos grandes sucessos da plataforma. Conta a história de 5 adolescentes negros que são acusados de tentativa de assassinato e estupro na cidade de Nova York. Um caso extremamente injusto, que deixou claro o quão racista é a sociedade.

E depois de 31 anos do ocorrido, mais uma vez o racismo volta à tona com muita força. Imagens mostram um policial branco assassinando uma pessoa negra na cidade de Minneapolis, que ficou conhecido como caso Floyd.

Eu quero propor uma reflexão sobre a forma como nos comunicamos cotidianamente. Será que é possível mudar o nosso vocabulário veladamente racista, em algumas vezes descaradamente racista?

É apenas força de expressão?

Repare, nós temos enraizadas em nosso vocabulário expressões e palavras que possuem origem em atos racistas.

* Quando algo está difícil logo escutamos: “a coisa está preta”.

* Quando não quer assumir, você está “negando”.

* Se ficou com raiva de alguém essa pessoa vai para a sua “lista negra”.

* Fale coisas ruins de uma pessoa e automaticamente estará “denegrindo” a imagem dela.

* Se é um comércio ilegal, chamamos de “mercado negro”.

* Um trabalho que não foi bem feito é um “serviço de preto”.

A comunicação tem um papel fundamental na propagação desse tipo de pensamento, é por meio dela que crenças e valores são disseminados e enraizados nas mentes das pessoas.

Mas alguém pode falar: “poxa, é cultural! O brasileiro é assim mesmo, descontraído!”. Não tem nada disso! Confesso que eu também falava algumas expressões desse tipo e não percebia como podem ser ofensivas, peço perdão. Sei que muitas pessoas também citam essas expressões sem perceberem a real gravidade.

Quando passei a fazer uma análise crítica da minha fala foi possível identificar que cometia o erro inconscientemente, e agora já consigo trazer para o consciente, ou seja, sou capaz de mudar a palavra/expressão para o real significado sem usar termos pejorativos. Faça esse exercício também!

Não quer dizer que sempre falamos assim que devemos continuar assim!

A palavra empatia é muito empregada nesse momento, mas de fato nós nunca iremos sentir o que uma pessoa negra sofre com esse tipo de colocação, nunca!

Hoje exercendo o papel de professor de comunicação, busco criar nos alunos uma nova forma de pensar, mostrar que a fala esconde mensagens, que determinadas palavras podem ter conotação diferente do que eles pensam. Enfim, tenho certeza de que o trabalho da educação será capaz de erradicar os julgamentos e ofensas da cultura brasileira. Vou lutar por isso!

Desculpe-nos, “força de expressão” para quem fala e ofensa para quem escuta. Desculpe-nos!

Paulo Felipe Rodrigues

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