“Vinte e cinco anos e já é formado em Harvard?!”.
Lucas sempre conseguiu lidar muito bem com esse tipo de pergunta em todas as entrevistas de emprego, em vista que, ele era o mais jovem dos candidatos e já tinha se graduado em economia pela Universidade Harvard, em Cambridge. Dotado de um currículo impecável, Lucas no ano de sua formação foi contratado para atuar na área financeira de uma grande multinacional instalada em Belo Horizonte.
Ao passar dos meses, obtendo sucesso e bons feedbacks das tarefas que eram-lhe delegadas, o economista começou a enfrentar situações conflituosas na companhia. À medida que era promovido, sua timidez e insegurança também subiam de cargo e ficava cada vez mais difícil lidar com um maior número de pessoas dependendo de suas atribuições, uma vez que, para uma boa liderança são necessários diversos critérios, principalmente uma comunicação clara e objetiva.
Lucas encontrou um gargalo em sua vida profissional quando foi anunciado para o seu setor que no fim daquele semestre o sócio majoritário marcara uma reunião para apresentação dos resultados das finanças da empresa e, por consequência, quem iria conduzir a conferência seria o responsável pelo financeiro. Além disso, naquela altura do campeonato, todos os funcionários já estavam insatisfeitos com a forma subjetiva e grosseira que o economista dirigia os afazeres.
Faltando uma semana para o encerramento do semestre, uma funcionária alegando estar cansada de ter retrabalho pela comunicação inassertiva de Lucas, procurou a gerente do departamento de RH para formalizar uma reclamação. Após uma avaliação minuciosa, Clarice, a gerente de RH, preocupada com o bem estar da empresa, convocou o jovem Lucas para uma conversa dentro da sala de reuniões.
Clarice ficou surpreendida quando se deparou com Lucas nervoso e quase chorando quando ela explicou a situação, já que, era incompreensível “um menino tão novo, com um currículo tão completo” estar passando por um atrito com os colaboradores por um problema “simples” de comunicação. Logo após os ânimos serem contidos, a gerente liberou o economista para pensar e tirar aquela terça-feira chuvosa de folga.
Clarice também tem vinte e cinco anos e se graduou em Administração pela PUC-MG, não teve as mesmas oportunidades que o economista, entretanto, conquistou um dos cargos mais importantes da empresa com extrema competência e com uma característica marcante: oratória clara, autentica, objetiva e que cativava todos os funcionários e clientes.
Sem demora, Lucas chegou em casa e começou a refletir sobre às dificuldades que possuía para se comunicar e na imagem que ele deixava para os funcionários, tendo em vista que, por ocupar a posição de líder ele deveria impulsionar e facilitar as tarefas e a comunicação do seu setor. Assim, de forma instantânea, mandou uma mensagem para a sua gerente pedindo ajuda, pois não sabia o que faria para recuperar a própria confiança e a de seus funcionários.
Clarice de imediato respondeu e concordou em ajudar seu colega de trabalho, mas para que essa dinâmica ocorresse, ele deveria desmistificar o ato de falar como algo complexo e meticuloso. Assim, a partir daquele dia, eles iriam se encontrar para conversar e iriam abordar os temas da reunião que já estava se aproximando, tudo iria acontecer de forma prática, lúdica e ele faria apresentações com diversos temas, de forma que trabalhasse a timidez e a capacidade que ele tinha de improvisar.
Foram quatro noites intensas e divertidas que Clarice apresentou a comunicação para o Lucas de forma que ele nunca teve contato. Na primeira noite, a gerente começou a perceber que um dos grandes problemas do economista era a velocidade que ele transmitia a mensagem e sua entonação, por conseguinte, ela explicou a importância do controle vocal e do processo antes da fala, ajudando no controle da ansiedade.
Na segunda noite, o trabalho se desenvolveu sob a linguagem não verbal, uma vez que, a comunicação é a somatória de diversos fatores, incluindo a mensagem que o seu corpo está passando. Assim, Clarice orientou a postura do economista perante a plateia, o movimento coordenado do tronco e do pescoço e a hora certa que ele deveria caminhar durante o discurso.
Na terceira noite, os colegas de trabalho buscaram fazer uma atividade diferente. Lucas levou uma série de perguntas e Clarice se dedicou a responder durante todo o tempo que era destinado as práticas. As perguntas eram basicamente:
– “Como reativar a atenção da plateia”?
– “Como eu posso criar uma conexão por meio do olhar”?
– “Quais as atitudes que eu devo evitar em uma apresentação”?
Na quarta e última noite eles se dedicaram a estruturação da fala, como se organizar para não ser prolixo e perder a objetividade. O último encontro significou muito para o Lucas, sua cabeça não conseguia pensar em outra coisa a não ser no porque ele passou tanto tempo sem dar atenção para sua fala e postura.
Ao chegar em casa e se deitar, o economista se deu conta que aqueles dias tinham sido tão intensos que ele não estava lembrando que a reunião era no dia seguinte.
O grande dia chegou e o jovem Lucas apesar de todo treinamento, se sentia inseguro para sua apresentação e antes de começar, tentou mentalizar boas lembranças e controlar sua respiração. Sem dúvidas, sua imagem e do seu setor estavam em jogo naquela reunião, mas o economista se manteve calmo e positivo para conduzir a fala.
À apresentação durou cerca de três horas e Clarice esperou pelo colega no saguão. Três longas horas que foram gastas andando de um lado para o outro, e que foi bruscamente interrompida quando ele chegou e começou a contar do seu desempenho e desatou-se em lágrimas de orgulho e gratidão pela ajuda e tempo que sua colega destinou para que ele conseguisse aprimorar seu discurso.
Cinco anos se passaram, e Lucas construiu uma fama dentre os funcionários como melhor administrador que a empresa já teve. O jovem, que já não era mais, tão jovem assim, começou um processo de treinamento interno que era dedicado à importância de uma comunicação assertiva e humanizada, projeto que tem como foco o melhor desempenho pessoal e das equipes. Por certo, uma das mais significativas conquistas do economista não tinha mais tanta ligação com seu diploma internacional, ou sua atuação em diferentes áreas, mas sim com o poder que a sua comunicação teve de acelerar e melhorar o crescimento da empresa, e concomitante a isso, o pessoal.
Lucas nunca se esqueceu dos ensinamentos que Clarice transmitiu naquelas quatro noites que antecediam a reunião, e principalmente, de uma frase que ela lhe apresentou:
“Bom orador é o que convence a si mesmo antes do convencer o auditório.” Carlos Drummond de Andrade